Bailado das Abelhas

® Todos os direitos reservados à autora - Cida Becker/2006

15.4.11

Voo


Dançou entre as margaridas
Ouviu ruidos de mar
Beijou as ervas daninhas
Recebeu rosas vermelas
Voou sobre as cachoriras
Andarilha pousou no céu.

Marcadores:

14.4.11

Dor


Quem sabe se eu chorasse
Afastaria a dor que
Comigo dorme e vê a aurora.

Procegue severa e neutra
Aos meus sentimentos
De hoje e de outrora.

Conviver com ela já não
mais apavora.

O que maltrata é saber
Que enquanto viva
Ha de ser minha rude companheira.

Saudades


Eu vi a pouco tempo um livro da prateleira chorando. Chorava manso, mas as lágrimas escorriam pelas outras prateleiras num pranto mesclado de dor e saudades. Sabia o livro que ninguém mais escreveria algo igual ou talvez semelhante. Lembrou ainda, da importância maior que tinha: guardar para sempre as últimas palavras do escritor.

13.4.11

Noite de Festa


Noites em festas de tangos

‘Copetins”, bailarinas e amores

Um “bandonion” que se entrega

Mil beijos enfeitado de flores

Assim és tu Buenos Aires

Plena de tantas paixões

Coração, corpo sem jeito

A flutuar entre notas.

Peço um sorriso mais quente

Quero amar em Buenos Aires

A imagem



A imagem vista era de uma mulher de cabelos grisalhos e estavam em desalinho. Não sei explicar o tom do olhar. Não era turvo nem desfocado. Era morno.

Sentei-me ao lado dela, chorou e mostrou-me um retrato colorido e rasurado. Nele aparecia uma casa sobre rodas. Várias cadeiras em círculo, uma mesa redonda ao centro, cuia de mate, latas de cerveja, um pernil de porco pendurado numa árvore, vários biquínis recostados sobre a cerca e lá em baixo o mar.

Apontou-me com o dedo reumático os biquínis e com a voz rouca entre um lacrimejar e outro falou em tom de suplica: - eram meus.

11.4.11

Lampiões


Os lampiões acesos
Nas bordas da madrugada
Davam luz à esquina
Onde o mendigo dormitava.

8.4.11

Desconhecimento



Existem tantos enganos

Que o coração não dá conta

De desfazer estes danos.

Então vamos seguindo

Por caminhos tortuosos.

Dispensamos o acaso

A emergência do pecado.

Saimos ilesos da vida

Sem conhecermos prazeres.