Bailado das Abelhas

® Todos os direitos reservados à autora - Cida Becker/2006

30.3.11

Malena


Calor. Nuvens carregadas que pareciam não chover nunca. Quem olhasse para o céu pensaria ser sempre assim. Nuvens eternas abafando o dia e as noites. Suores misturavam-se nos ônibus, nas plataformas de trem e nas camas dos quartos imundos dos hotéis próximos à rodoviária. Malena era puta famosa mas nem por isto deixava de suar.

Batom carmim escuro deixavam a boca mais larga do que já era, o que lhe dava o apelido de Castanhola, principalmente quando dava suas gargalhadas que faziam a dentadura comprada ter som. Ariovaldo, seu dono, a exibia na rua com fartura de orgulho. Ora loira ora morena, dançava a tinta no cabelo conforme a estação do ano. Naquele dia de intenso calor tropical estava loira. O batom seguia carmim. Resolveu fazer ponto entre a rodoviária e a estação de trem. Seu dono almejava um fim de semana na praia e o dinheiro para tal faceirice era com Malena.

Vestiu-se adequadamente para aquele sol mormaço, calçando o salto mais alto que possuía das sandálias gastas do fundo do armário. Sentiu odor de ano anterior com algumas manchas adquiridas nos mofos do inverno. Mas era assim, mulher da vida só ganha sapato novo quando vira dona de pensão. Este não era o caso da puta de Ariovaldo, faltava algum tempo e muitos tabefes para chegar a este tipo de finura.
Ao sair pela porta da frente já ouviu o assobio de seu dono. Aviso acostumado para fazer presença de controle. Ela estava acostumada a esta rotina: na saída, um assobio; no retorno, a contagem do dinheiro na bolsa pastosa. Neste dia a mulher estava decidida a desempenhar seu papel com bravura, daria um fim de semana glorioso ao seu dono.

Sacudiu a bunda saltitante rumo à chegada dos passageiros. Rebocando a boca, deu com os olhos num moço bonito e das mais caprichadas roupas. Pareceu bom partido embora ainda jovem. Secou o suor e caminhou em direção ao moço. Rebolou bem os quadris dando marca na saia justa e curta. Piscou um olho, girou a bolsa e esfregou-se de leve no rapazote. Este enrubesce e desconcerta o olho verde e o outro azul. Ela insiste, sai andando, levando a mão de esmalte vermelho, empurrando-o carinhosamente em direção a um dos hotéis da zona. De preferência o mais caro e menos ardido.

Entram no quarto indo direto à cama. O rapaz estremece. Malena sente que será sua primeira vez. Suores escorrem pelos dois corpos. Ela delicadamente ensinou ao moço de um olho verde e outro azul os mistérios da vida de sexo. ¨Parece ter gostado¨... vai repetindo com a boca de castanholas e vai direto na carteira do ex –virgem. Nada. Nem uma moeda. Sacode a roupa, nada. Olha o novo homem e com os sapatos nas mãos vai saindo do quarto enquanto pensa: ¨Vou levar uns tabefes, não vai ter praia. Mas coitadinho dos olhos desiguais não sabia nada de transa e por vezes temos de ser professoras. Valeu, só não sei como pagar o hotel. Vai para a conta do nunca mais¨.

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